André Gorz, em seu livro "Adeus ao proletariado: para além do socialismo", elabora uma tese que causou/causa muito mal-estar à Esquerda, mas que nestes tempos contra-revolucionários, vale muito à pena ser lido e refletido. Ainda que não comungue com as idéias ali postas, acredito que é uma incursão que deva ser feita, porque há momentos que, envolto nas minhas contradições, começo a achar que a tal da consciência de classe, já anunciada lá pelos idos do século XIX, não passa de cortina de fumaça! Sei que é uma heresia tal afirmação, mas quando determinadas coisas acontecem, sou tomado pela incredulidade: por mais que sonhemos, parece que tudo não passa de utopia no sentido do inatingível!
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Quando trabalhava na iniciativa privada, esse período de final de ano era repleto de "boas ações e solidariedade" por parte dos patrões! Essa atitude fazia com que os operários, de certa forma ingênuos, acreditassem que os "presentes doados" fossem dádivas! Muito ficavam cheios de orgulho e viam os empresários como verdadeiros papais noéis! Na empresa que trabalhava, o dono costumava fazer um discurso onde afirmava que "o faturamento da nossa empresa, naquele ano, possibilitara dar aquelas cestas de natal!" Alguns colegas chegavam a chorar com a emoção provocada por aquelas palavras! Ficava sem jeito, constrangido até no meio daquela "festa"! É fato que a participação no sindicato me ajudava a não acreditar naquela versão de pai/patrão! Contudo pensava que aquilo logo, logo deixaria de acontecer porque todos perceberíamos que aquela era conversa para boi dormir, não passava da grande farsa que esconde, por trás do tal espírito natalino, a exploração mais cruel e desumana da força de trabalho!
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Na hora do almoço, no espaço de pesagem dos alimentos, um dos funcionários estava eufórico. De repente, começa a falar sobre o "presente" que o dono do restaurante lhe dera. Dias antes, tinha presenciado o início de incêndio no setor desse funcionário e vira como eram as suas condições de trabalho. Naquele dia, por pouco não fora explodido junto com os botijões de gás que o circundam nas suas tarefas quotidianas. Ademais, por vezes, exerce dupla função: assa as carnes e ajuda na balança. Mas naquele momento, em que recebera seu presente de fim de ano, sua felicidade era superlativa! Dissera-me que todo ano seu patrão dava um chester a cada um no natal, porém esse ano fora diferente, até aquele momento, penúltimo dia do ano, ninguém recebera nada! Já estava desesperançado, quando o dono convocara os empregados e perguntara se queriam ganhar vinho ou queijo, antes de qualquer resposta, o bom patrão anunciou que daria os DOIS! André Gorz, no livro que abriu essa conversa, afirmou textualmente que "a alienação só pode ser superada fora do trabalho assalariado." Eis uma questão das mais controversas. Não parece um paradoxo diante de tudo o que acreditamos em relação ao trabalho e aos trabalhadores?...
“Não nasci marcado para ser um professor assim (como sou). Vim me tornando desta forma no corpo das tramas, na reflexão sobre a ação, na observação atenta a outras práticas, na leitura persistente e crítica. Ninguém nasce feito. Vamos nos fazendo aos poucos, na prática social de que tomamos parte." Paulo Freire
quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
Operários...
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