Saí momentaneamente e ao olhar o céu, vi que estava azulzinho com aquelas belas nuvens de algodão recobrindo-o! Isso no cair de uma tarde de verão é muito lindo! Sem querer, lembrei de meu pai. Na realidade, uma fugaz memória de infância, rápida como um cometa, apossara-se de mim naquele momento! Recordei que numa tarde parecida, sentado estava na janela que dava para o pátio da casa em que fui criança, quando mais que de repente, uma "arraia" (esse é o nome que nós soteropolitanos damos àqueles retângulos que ficam no ar ao sabor do vento, mas que em outros lugares, nem são retângulos, são chamados de pipas) caiu bem pertinho de mim! E para aumentar a minha alegria, tinha uma quantidade enorme de linha, ou seja, no jargão dos empinadores de arraia, ela fora cortada na "mão"! Meu pai, então, começou a me mostrar sua técnica para enrolar toda aquela linha sem embaraçar! Não sei por que essa reminiscência veio à luz da minha memória, talvez seja por saber que aquele sujeito que quando menino me ensinara alguns truques, como o descrito, deixara de existir! Tivera a notícia seis meses depois do ocorrido e fui tomado por um sentimento de perda, que não sei explicar direito o porquê.
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Digo tudo isso sem nenhuma intenção de emocionar ou buscar a sua solidariedade com o ocorrido, meu caro e desconhecido leitor! Mesmo porque, a minha relação com ele nem sequer se aproximava daquela que Fábio Júnior tinha com o dele! Nem tive tempo de saber se o meu fora herói ou "bandido"! O que trago é um "contraponto", isto é, dizer que nem sempre as relações entre pais e filhos são generosas ou parceiras, mas, ainda assim, a figura paterna nos marca de forma indelével! Por estranha força nos vemos querendo agradá-lo, mesmo que já não tenhamos mais idade para aquilo! Até quando somos "rebeldes", o intuito não é outro: queremos chamar sua atenção! Há um ensaio do Bourdieu, chamado "As Contradições da Herança", que tenta desvelar essa relação tão idiossincrática!
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Nem sequer fôramos amigos, longe disso, o contexto da relação nos transformou em dois estranhos! Um antigo professor ao saber dessa minha história, sugeriu que o procurasse o quanto antes. Entendia essa sugestão, não como um acerto de contas e sim um modo de ficar com a minha consciência traquila! Juro que em alguns momentos, cheguei a pensar nessa possibilidade, contudo o que reteve a minha decisão não foi, como pode parecer, nem a minha arrogância, nem uma possível prepotência! O que realmente me imobilizava, era o medo de que ele entendesse que o objetivo era outro! Ademais, havia um segundo elemento preponderante nessa equação: seria hipocrisia, já que eu não estaria sendo movido pela emoção filial, aconteceria o encontro entre dois desconhecidos que talvez nem "lembrassem" seus nomes! A morte nos faz pensar em coisas que julgávamos sepultadas, não sei de onde tirei essa idéia, mas sempre achei que meu pai era indestrutível! Que ele jamais morreria...
11 comentários:
Mano, mês que vem meu pai completará 70 anos... "só não aprendi a perder...", acho que você entende.
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Estou pensando num projeto para 2009, trata-se do livro/coletânea provisoriamente chamado de "sanduíche de gente" e estou procurando um parceiro. Gostaria de saber se não queres publicar tuas crônicas junto com meus rabiscos, o que achas? Escreve para mim: lauropxn@ufcg.edu.br
Eu te amo meu pai...
bem no dia do meu aniversario em?
eu e meu pai sempre tivemos uma relação estreita, mas temos nossos momentos de aproximação, principalmente nos momentos natalinos da vida... mas está sempre presente...embora eu descorde de suas atitudes, parece q a todo momento quero consertá-lo...para transformá-lo numa espécie de espelho...
daí o motivo de confrontos constantes...mesmo sendo pai, talves meu psicológico grita lá dentro que todos são diferentes, menos ele de min...
assim, meu amigo mano, lembrei tb de uma vez que eu estava bastante zangado com ele, e em seguida ele fez uma cena parecida com a do seu pai, quando caiu uma pipa em meu quintal, e ele ficou a tarde inteira tentando desenganxar da atena da casa, quando conseguiu tal proeza, veio em direção a min, e entregou com maior satisfação...
logo eu meti a mão e rasguei todinha, quebrei, e joguei fora...
e me arrependo até hoje por isso!
enfim, não quero aqui dizer que tenha se arrependido de algo em relação a seu pai, mas essas memorias acabam nos fazendo mais felizes quando percebemos que nossa história é constituída como um simples quebra-cabeça, que vai montando aos poucos,
tenha um ano novo cheio de paz, tranquilidade e força nesta caminhada!
um beijo
Vou começar pelo último, mas todos estão estreitamente ligados ao meu coração, eu disse todos!
Sabe, Jonatan, um amigo, justamente hoje, perguntou-me por você! Eu disse que fora o único a se preocupar comigo nas enchentes de Santa Catarina, claro que uma forma de provocação! Meu amigo, grande parte de janeiro, apareça para uma conversinha, parece que Itamar também vem! Quanto ao seu depoimento, sei que a sua história com seu pai é uma das mais linda que conheço. aquela frase do aprendizado, arrepia,meu camarada! Feliz aniversário e que o ano que ora começa seja de plenitude....
Manuela, eu sei que estamos "sofrendo", ainda não consegui me desvencilhar "daquilo", ainda dói,mas quanto a você, saiba que mesmo que não tenha vivido grande parte de sua adolescencia,ainda assim, eu seria seu pai de novo, você foi a melhor das coisas que ajudei a construir, EU TE AMO...
Lauro,meu grande camarada, por último, mas não o último! Sei que estou em débito com você! Afirmei em Julho que em dezembro/janeiro estaria em Jampa, mas alguns probleminhas pessoais atrapalharam, mas ainda vou cumprir a minha promessa, só ainda não sei quando, perdoe-me, grande amigo, por mais esse furo! Quanto ao projeto, pode contar comigo, espero não falhar de novo. Tenhas, você e Delânia, um ano cheio de luz! Saiba que estamos juntos, mesmo que geograficamente isso não tenha se realizado, um beijo enorme neste seu coração que é belo e comunista!
É, sempre pensamos que eles são eternos, imortais... Eu também pensava assim, sempre podia deixar prá depois o "eu te amo, pai"... Afinal, como eu poderia imaginar que ele nos deixaria em tão pouco tempo? Entre o diagnóstico e a sua morte foram apenas 24 dias! Enquanto isso, outra filha, distante dois mil quilômetros de mim, também vivia um drama semelhante. Seu pai tivera um AVC. Mas, pela relação que eu apenas "percebia" pois ainda não os conhecia pessoalmente, sei que o "eu te amo" jamais havia sido deixado prá mais tarde. Após da morte do meu pai percebi que muitas coisas não têm a mesma importância, são pequenas, mesquinhas. E procuro, sempre que possível, dizer o quanto eu amo as pessoas. Piegas? Talvez! Mas não quero ser surpreendida novamente e me culpar por deixar para mais tarde...
Mary, muito lindo o que você escreveu, mostrando também as suas "vísceras"! Parece-me que essa questão de "pai" vai estar sempre por resolver, a menos que "eles" realmente fossem indestrutíveis, como não são, algumas "perguntas" ficarão sem respostas, mas não penso que a CULPA deva nos acompanhar...eu te amo, viu?
é só marcar mano...seria bom se Itamar parecesse tb...caso ele dê sinal de vida articule este encontro
rsrsrsrrs
um beijo!
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