Acordo antes do previsto, fico me revirando na cama tentando recuperar aquela última nesga de sono que ainda me resta, mas que provavelmente não terei de volta. No quarto de um hotel barato, às escuras, resolvo ligar a tv, sei que não deveria, pois essa é uma mercadoria que nos impede de pensar livremente. Tudo ali já vem prontinho para ser consumido, a exemplo de suas famigeradas novelas, e só temos que comer com os olhos, embora a profusão de imagens nos ceguem! Porém, naquela manhã, Beth Lago falava sobre o silêncio e como este vem sendo cada vez mais olvidado por nós, o irônico da situação é que dizia isso justamente através de um aparelho que sobrevive da imagem e do som! Para falar do silêncio não há outro jeito, só quebrando-o! Esqueço esse porém e fico tentando entender por que optamos pela tempestade ao invés da calmaria. E ela através de situações corriqueiras como, por exemplo, a sirene da ambulância, vai me mostrando o quanto o silêncio nos grandes aglomerados é inacessível na maior parte das horas, isto é, o silêncio se manifesta apenas em pequeníssimas frações de tempo, os sons, de todas as naturezas, impõem suas presenças de forma demolidora! O interessante é que som e silêncio são inseparáveis, um não tem existência sem o outro, assim como a sombra não aparece sem a luz!
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No cotidiano somos bombardeados por uma quantidade incomensurável de ruídos que vai além do minimamente suportável! Esses vêm das mais diversas direções e vão, de forma avassaladora, se impondo, enquanto o silêncio está se tornando uma raridade dentro deste tempo tão veloz; entre os muitos barulhos que somos agraciados, observem como os sons dos celulares vão se apropriando dos espaços e tempo de convivência, chegando, de quando em vez, a confundir o dono do aparelho que está tocando: será que é o meu?! Outro movimento é justamente quando as pessoas atendem seus aparelhinhos, neste caso, somos convidados/obrigados a entrar em suas intimidades, ouvir seus queixumes, desavenças, desejos, vitórias, derrotas e tudo o mais! Há uma perda da dimensão do que é público e o que é privado. Aumenta ainda mais esse inconveniente quando temos mais de um celular em uso nas proximidades, neste caso, o silêncio se torna algo constrangedor, sua presença deve ser banida pelo bem da saúde pública.
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Certa ocasião, em um festival percussivo, fui surpreendido deveras por um dos músicos. Ele começou fazendo um barulho ensurdecedor e sem mais nem menos parou de repente; as pessoas ficaram atônitas, incomodadas mesmo com aquele silêncio sem propósito e fora de hora; não desejando quebrar o silêncio com suas próprias respirações, aplaudem fervorosamente a suposta performance! O artista espera calmamente e quando a última palma se cala, diz: era para ouvir o silêncio! Aquela, sim, era uma atitude extraordinária e, por que não dizer, assustadora por estar acontecendo justamente num festival em que o silêncio não fora convidado! Além disso, assumindo meu preconceito, não esperava que um movimento inusitado como aquele fosse feito por Carlinhos Brown!
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Em verdade, o que pode ser dito é que o silêncio nosso de cada dia vai ficando cada vez menos frequente, é como se estivesse paradoxalmente em extinção, e se sua existência não fosse fundamental, já teria sido assassinado sem dó ou piedade. Observem como ele nos incomoda. Quantas vezes você chegou a casa e sentiu aquela atmosfera pesada, e imediatamente não ligou a tv ou o som para acabar com aquela sensação de vazio que o silêncio proporciona? Somos a civilização do barulho e a sua ausência nos deixa desconsertados, talvez porque ficar a sós com a nossa presença seja insuportável! Existem pessoas que não conseguem ir para cama sem a tv, ainda que não esteja prestando atenção no que está sendo dito por suas imagens e sons! Loucura seria adormecer tendo o silêncio como companheiro! É em Zeca Baleiro, no disco Líricas, que encontro uma leitura provocadora, na faixa Brigitte Bardot, sobre o silêncio, quando ele dedica-lhe sete longos minutos, sete minutos que parecem uma eternidade aos ouvidos ansiosos. Você logo pensava que havia algo errado com aquela faixa, esquecia completamente que música também é silêncio e olha que o disco é do início dos anos 2000! Passado tanto tempo, todas as vezes que ouço a canção me impressiono com a sacada e fico imaginando o impacto nas outras pessoas, o que sentem/fazem quando a música para, o que será que pensam com aquela situação tão incomum? Ainda há lugar para o SILÊNCIO nos nossos dias tão cheios de sons?...
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Certa ocasião, em um festival percussivo, fui surpreendido deveras por um dos músicos. Ele começou fazendo um barulho ensurdecedor e sem mais nem menos parou de repente; as pessoas ficaram atônitas, incomodadas mesmo com aquele silêncio sem propósito e fora de hora; não desejando quebrar o silêncio com suas próprias respirações, aplaudem fervorosamente a suposta performance! O artista espera calmamente e quando a última palma se cala, diz: era para ouvir o silêncio! Aquela, sim, era uma atitude extraordinária e, por que não dizer, assustadora por estar acontecendo justamente num festival em que o silêncio não fora convidado! Além disso, assumindo meu preconceito, não esperava que um movimento inusitado como aquele fosse feito por Carlinhos Brown!
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Em verdade, o que pode ser dito é que o silêncio nosso de cada dia vai ficando cada vez menos frequente, é como se estivesse paradoxalmente em extinção, e se sua existência não fosse fundamental, já teria sido assassinado sem dó ou piedade. Observem como ele nos incomoda. Quantas vezes você chegou a casa e sentiu aquela atmosfera pesada, e imediatamente não ligou a tv ou o som para acabar com aquela sensação de vazio que o silêncio proporciona? Somos a civilização do barulho e a sua ausência nos deixa desconsertados, talvez porque ficar a sós com a nossa presença seja insuportável! Existem pessoas que não conseguem ir para cama sem a tv, ainda que não esteja prestando atenção no que está sendo dito por suas imagens e sons! Loucura seria adormecer tendo o silêncio como companheiro! É em Zeca Baleiro, no disco Líricas, que encontro uma leitura provocadora, na faixa Brigitte Bardot, sobre o silêncio, quando ele dedica-lhe sete longos minutos, sete minutos que parecem uma eternidade aos ouvidos ansiosos. Você logo pensava que havia algo errado com aquela faixa, esquecia completamente que música também é silêncio e olha que o disco é do início dos anos 2000! Passado tanto tempo, todas as vezes que ouço a canção me impressiono com a sacada e fico imaginando o impacto nas outras pessoas, o que sentem/fazem quando a música para, o que será que pensam com aquela situação tão incomum? Ainda há lugar para o SILÊNCIO nos nossos dias tão cheios de sons?...
3 comentários:
Fantástica reflexão. Estou em silêncio agora!
Agradeço em "silêncio", Gal...
kkkkkkkkkkkkkkkkk.......Vc é um barato!!Te amo MISERAAAAAAA!
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