"Olha lá, Quem vem do lado oposto vem sem gosto de viver, Olha lá, Que os bravos são escravos sãos e salvos de sofrer, Olha lá, Quem acha que perder é ser menor na vida, Olha lá, Quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar " M.C.
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A epígrafe em destaque dá uma idéia mais que perfeita de como os sujeitos nada mais são do que um objeto dentro do esporte, nada mais que mercadoria vendendo uma marca, um produto e ao mesmo tempo sendo um produto de consumo! Ainda que as palavras que gravitam em torno do fenômeno esportivo sinalizem para algo voltado para o bem-estar, para a ética, do tipo: saúde, caráter, ousadia; geralmente a imagem do esportista está associada àquilo que deve ser seguido como exemplo, mas quando acontece os "escorregões", as portas se fecham e o "infrator" é colocado como se fora o único responsável pelo "crime", haja vista o caso recente da nadadora Rebeca Gusmão! Será que ela sozinha se articulou e conseguiu burlar toda uma equipe na troca de "urinas"? Não será mais embaixo o buraco? Do mesmo modo, não se pode levar em consideração o que disse seu pai, magoado com o tratamento dispensado à filha, suas palavras indicam que a atleta está envolta em uma teoria da conspiração, sendo uma vítima de forças "ocultas"!
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O ex-atleta canadense, Ben Johnson, flagrado no exame antidoping, em Seul, disse três coisas que merecem uma reflexão profunda por parte de todos aqueles que estão envolvidos com o mundo esportivo. Na primeira, ele afirmou: "meu médico me disse que não me deu nada que pudesse aparecer em um exame antidoping. Mas foi encontrado estanozolol na urina e isso é algo que eu nunca tomei". Como não há inocentes no esporte, as altas somas estimulam as buscas desenfreadas pelos recordes, pela vitória, alguém usou algo ilícito, é lógico que sugerido por alguém, ou seja, todos estão envolvidos, desde a marca que patrocina o atleta até aquele dirigente que vê na quebra do recorde uma escada para outros vôos muito além do esporte! Na segunda, Johnson, mais maduro e mais atento para os perigos do doping, salientou: "enquanto os jovens tiverem ambição de ganhar grandes prêmios em dinheiro, farão tudo para conseguir". Como gado indo para o matadouro, tudo farão para se tornar celebridades, terem seus nomes nas gazetas esportivas da vida, não importam os meios, desde que não sejam flagrados! Mas é na terceira afirmação que Johnson fulmina com todos os grandes "vencedores", diz ele: "eu acredito que todos os atletas de alto nível usam drogas para melhorar a performance". Ele disse todos! A quem interessa uma afirmação desse tipo? Quem encobre a farsa do recorde feito à base de substâncias proibidas? Quando Joaquim Cruz pôs em xeque a performance de Florence Griffith-Joyner, foi duramente criticado, contudo as marcas dela continuam imbatíveis, ainda que tenha morrido prematuramente havendo indícios que a causa tenha sido o uso de drogas! O silêncio responde!
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Qual é o preço que se deve pagar pela vitória? Essa talvez seja a pergunta recorrente nas cabeças dos atletas de alta performance. Estamos falando entre outras coisas de uma questão ética/moral. Até onde um atleta pode ir sem correr riscos? Como estamos sob a égide de um modo de produção em que a exploração do trabalho é a sua marca registrada e a alienação seu ponto de partida, isso leva a disputas mais que ferrenhas, todos querem ser mais, ter mais e não importa como isso se dará, o processo de alienação faz com que todos desejem ser explorados! Que coisa, não? Todos com o mesmo desejo de ser vistos como coisa, como um produto! Quem chegar na frente terá sua cota, sua parte no bolo! Como "tudo que se move" vira mercadoria, o atleta é uma mercadoria, portanto, cabe um "investimento" para a sua valorização!
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A ciência entra na competição para tornar possível que os corpos rompam seus limites, mas isso pode levar o coração a patamares perigosos! Este, como uma bomba, tem seu limite de batidas, as mortes prematuras têm mostrado essa obviedade! É possível ampliar esse limite? Quem pode melhorar o desempenho para além do treinamento são os anabolizantes e afins! Como estamos falando de atletas de alto rendimento, significa dizer que o nivelamento que o treinamento proporcionou, na verdade, criou um grande problema, um beco meio que sem saída! O que fazer para superar um adversário cujo capacidade e resistência são semelhantes às suas? Numa corrida de 100 metros, quase já não é mais possível saber quem foi o vencedor a olho nu! Quando Ben Johnson afirma categoricamente que todos tomam alguma coisa, significa dizer que temos duas competições pararelas! De um lado o atleta "dopado" correndo alguns milímetros à frente, do outro, a ciência na busca desenfreada para fisgá-lo, quem será o vencedor dessa competição atroz? A ciência tem vencido alguns "páreos", mas casos como o de Rebeca Gusmão mostram que alguém vai ter que ceder, antes que, levando em consideração o que disse Johnson, tenhamos mortes em todos os eventos esportivos...
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