Era uma apresentação do contrabaixista Edwin Pitre, no canal SESCTV, e a primeira imagem mostrada é de uma mulher, cheia de energia, sorrindo, com uma felicidade transbordante, tocando percussão! Havia um prazer no toque das mãos no tambor que maravilhava! Uma delícia de se ouvir, lindo de se ver! Facilmente, poderia-se dizer que a mistura passeava por ritmos caribenhos, aportando no Brasil de forma tranquila e provocante! Sim, o jazz estava presente naquela onda de sons e melodias! Mas o som que a menina tirava dos instrumentos percussivos era muito belo e dava um colorido todo especial ao evento!
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Na realidade, gosto de ver mulheres fazendo aquilo que geralmente está "reservado" aos homens, negando aquele negócio de que a pessoa nasce com o dom para ser isso ou aquilo! Pense bem, se a Marta, considerada a melhor jogadora de futebol do mundo, tivesse nascido em Kabul, no Afeganistão, teria condições de fazer o que ela faz? Gostava de ir aos shows da Cassia Eller para vê-la cantar e tocar, mas também ouvir a Lan, percussionista da banda, "percussionar", havia uma intensidade tribal no "som" que ela fazia! No caso da percussão, é muito comum além de ser um espaço masculino, está reservado aos pretos, são eles os chamados para manusear os tambores e afins, culturalmente, são os que ficam na "cozinha" da música!
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Outrossim, é bom de se ver mulheres dirigindo caminhões! Vê-las manipulando e com desenvoltura, às vezes, superior aos homens é bárbaro! Quebra a lógica instituída pelas hordas masculinas. Para elas fazer determinadas coisas, dirigir caminhões é um bom exemplo, é um teste diário, têm que matar um leão a cada hora! Quando no trânsito há uma "barberagem" e quem cometeu o "delito" foi uma mulher, os defensores da tese do inato, vibram, afinal, há uma confirmação daquilo que eles acreditam ser a verdade absoluta: mulher não nasceu para dirigir! Contudo as estatísticas mostram que os acidentes causados por mulheres são muito pequenos, comparados aos causados pelos marmanjos! É bem provável que se diga que o número de mulheres dirigindo é menor, por isso essa evidência! Na verdade, quem trabalha com aprendizagem e desenvolvimento numa perspectiva histórico-cultural sabe que para além da força muscular, o meio social é o elemento fundamental na apropriação do conhecimento por parte do indivíduo, seja mulher ou homem!
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E por último, mas não a última, falemos de Cecília Kerche, primeira bailarina do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Em entrevista na TVE, no programa Re(corte)cultural, ela falou de seu projeto de mundo, como deve ser a iniciação para a dança, quais devem ser os objetivos. Disse, ainda, que tinha como meta chegar no lugar em que chegou aos vinte e cinco anos e conseguiu! Na conversa, é perceptível que é uma apaixonada pelo que faz, mais do que isso, é uma apologista descomensurada, diria que é quase "cega"! Afirmou que as possibilidades de emocionar, entreter, fazer chorar, tudo isso sem enunciar uma palavra sequer, faz da dança a arte mais completa que existe! Em tom professoral disse uma coisa que venho tentando negar, incisivamente, nesta peroração: "Não é você quem escolhe o ballet, é o ballet quem te escolhe"! Será? Isso não parece uma certeza absoluta? Então, responda sem pestanejar: alguém escolhe ser gari ou é o lixo quem escolhe o sujeito? Geralmente os que têm "talento", dificilmente conseguem escapar desta percepção metafísica, são os "escolhidos", jamais, em tempo algum, percebem que as condições econômico-sociais são determinantes nas nossas escolhas, terminam na sua "santa ingenuidade", referendando o discurso perverso do preconceito: do mais ágil, mais forte, mais veloz, mal sabem eles que é por isso que filho de médico é "doutor"...
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