quinta-feira, 16 de agosto de 2007

"Piratas"...

A revista Caros Amigos lançou, há quase dois anos, um número especial onde ironicamente questionava a nossa índole com a frase: somos todos desonestos? Lembrei disso porque passando por inúmeros vendedores de produtos não "originais", sem a hipocrisia que gira em torno desse mercado informal, onde pululam aos montes CDS e DVS e artigos outros, com uma variedade espantosa, não resisti à tentação e comprei alguns exemplares! Como já disse anteriormente, a multiplicidade de títulos surpreende até o mais cético dos consumidores! Na realidade, hoje, mal acontece uma estréia nos cinemas, esses "conquistadores dos mares" já a têm em "primeira mão"! Surpreendentemente, para uma cidade sem cinemas, o chamado mercado "pirata" supre um público sequioso! Não sei bem o porquê, mas me vem à memória o questionamento da revista: somos todos desonestos? Aprovamos sub-repticiamente as ações que não são consideradas legais? Sou desonesto quando compro um "piratinha" ali na esquina?
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Enquanto pensava nisso, quase sem querer, me veio a imagem do senador Renan Calheiros e tantos outros que fazem parte da fauna do parlamento brasileiro! Não consigo esquecer daquele deputado gaúcho, o Onyx Lorenzoni, que dizia: "há uma diferença entre propina e 'mimo'"! Não, não é para rir! Sou, imediatamente, assaltado, não sei por que essa palavra teima em aparecer, pela questão trazida pela revista: será que somos todos desonestos? Isso está no nosso DNA? Trazemos isso de berço? É verdadeira a afirmação que diz que basta termos uma chance, por menor que seja, que burlamos a lei e não pensamos duas vezes? O exemplo dos parlamentares "mimosos" pode ser estendido para todas as pessoas? Não é estranho, para não dizer indecente, que os que deveriam dar exemplo, são os que mais transgridem as leis que eles mesmos elaboram? Se verificarmos de forma bem rápida a folha corrida de alguns dos que são responsáveis pelo parlamento, percebemos que aquela música do Chico Buarque se materializa de forma contundente, dizendo: "chame, chame, chame o ladrão"!
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Em todos os momentos que coloquei os meus "piratinhas" para rodar, por "estranha ironia", apareceram mensagens de cunho "esclarecedor"; nestas, a recomendação é não comprar nada que não seja original, não à pirataria! Eu rio todas as vezes que as vejo. Devo admitir que os produtos "piratas" são "originais" até nisso! Não parece surrealismo no "piratinha" aparecer uma mensagem dizendo não compre "esse" produto?! Duas são singulares pela forma como foram construídas, diria, uma obra-prima do "terror" moral! Imagina aí, aparecer um sujeito na tela, roubando supermercado, bolsa, celular e por fim a pérola: quem compra pirata é ladrão, porque um sujeito honesto não cometeria tal ato! A outra é aquela do pai que chega em casa com o seu "piratinha", todo satisfeito e o guri, do alto da "sapiência infantil", diz que a tia disse que o sinal da antena é "pirata" e que roubou o brinquedo do amiguinho, comparando a atitude com a do pai e este, mais que rápido, responde: não, isso não pode!
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Não estou defendendo e nem atacando o mercado alternativo, muito pelo contrário, tento entender a lógica. O mercado paralelo se desenvolveu porque tem um público ávido; fala a verdade, não é, justamente, isso que diz a lógica capitalista quando se refere às questões de oferta e procura? Neste sentido, elas são estimuladas por uma indústria que quer ganhar muito, mas muito mais do que elas podem pagar. O certo é que nós queremos pagar o mínimo possível e tendo possibilidade de fazê-lo, nada nos constrange! Alguns, para se "defenderem", poderão usar o mesmo argumento do Lorenzoni e dizer que a compra do pirata é um "mimo" do mercado alternativo, (pirata, não!) para com aqueles que não dispõem de recursos para pagar por um produto que custa R$ 49,00 e pode ser encontrado por R$ 5,00, embora já existam pesquisas que sinalizem que os produtos vendidos na periferia do mercado são consumidos não apenas por aqueles que têm renda considerada indecente, mas por muitos dos que têm altos ganhos! Êta, lá vem a pergunta de novo! Se não há distinção de classe, (pelo menos aí, ainda não!) na compra dos produtos "periféricos", poderia se afirmar que todos somos desonestos ou o buraco é mais embaixo?...

Um comentário:

Anônimo disse...

Rumo à blogsfera, rumo aos 20 mil!
rs...
Estou na campanha!