Final de semestre acadêmico é sempre tão igual, qualquer mudança entre um e outro é quase imperceptível! Vem sempre acompanhado de um acúmulo brutal de tarefas, tanto para alguns professores, como para a grande maioria dos estudantes! É um corre-corre sem fim. É um "digitar" de trabalhos para fins avaliativos incomensurável! Sei que, de forma perversa, tenho chamado essa "geração" de "control C\control V", faço a mea culpa, mas que um sem-número deles usam desse artifício, isso é fato! Rio de forma solitária quando recebo um trabalho e percebo que o "copiar/colar" não foi sequer lido pelo "autor"! Esse processo, às vezes, é tão grosseiro que se assemelha àqueles trabalhos mal feitos do tempo do antigo segundo grau! O computador acabou com a "pesquisa" feita diretamente dos livros, com ela os "autores" chegavam a ficar com calos nos dedos, porém com o avanço tecnológico, o que era extremamente dolorido, hoje sequer ajuda a coordenação motora fina dos "pesquisadores"!
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Não sejamos tão duros a ponto de culpabilizar apenas aos estudantes pela "pesquisa" mal ajambrada da web, se isso pode ser chamado de "mal da preguiça", no outro extremo estão os seus "mestres", estes fazem o que é conhecido nos corredores como "migué". Verdadeiros "gênios" da pesquisa cobram os trabalhos e avaliam pela cara do estudante e quantidade de páginas. Houve um caso curioso que ilustra muito bem esse círculo vicioso! Um estudante que teimava que sabia como construir um problema de pesquisa. Mostrava-lhe que havia umas incoerências na sua elaboração, mas ele não aceitava, afinal determinada professora lhe dissera que ele sabia como fazer, o professor o perseguia com certeza! Para resolver o "problema", foi preciso procurar a tal professora para saber como fora a caminhada dele sob sua direção. Para encurtar a conversa, o projeto de pesquisa que era parte da avaliação jamais, em tempo algum, fora lido! Casos como esse se repetem à exaustão!
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As monografias de final de curso, também conhecidas como TCC, estão se tornando um verdadeiro cancro, justamente por causa dos já citados "control c/control v"! Mas o descalabro não pára por aí, há também as "empresas" que elaboram qualquer "pesquisa" por um precinho bem camarada! O curioso neste fato é que esse não é um fenômeno local. Remi Hess* afirma que já se defrontou com pessoas que lhe pediam para escrever suas teses e olha que essas já deixaram a graduação há muito tempo! É bem possível que todo mundo concorde que escrever não é tarefa fácil. Sabe-se que para que a escrita aconteça, sua irmã siamesa, a leitura, tem que estar presente, ou seja, sem leitura a escrita é uma equação cuja incógnita não tem solução!
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É neste contexto que aparece a figura do orientador, aquele que vai ajudar o neófito na elaboração da sua monografia! Para uns coisa fácil e tranquila, para outros sofrimento constante que só termina quando a monografia é apresentada! Há orientandos que são chamados de borboletas, aqueles que basta uma leve brisa para que alcem seus vôos até as estrelas, mas existe a contrapartida: os elefantes. Esses paquidermes dificultam seu próprio processo porque não ouvem, não pensam, além de pesados são surdos! Quando o final de semestre coincide com essas defesas e elas são determinantes para a formatura, sai de baixo, porque é confusão na certa! Começam as ameaças veladas, do tipo: "só não formo se você não quiser"! Orientei um sujeito que seu trabalho não andava, parecia cachorro correndo atrás da própria cauda! Estando no auge da irritação o cara me perguntou: "o que não está bom"? É neste momento que o orientando vira seu próprio orientador! Não há explicação que o convença que o trabalho está frágil, sem sustentação metodológica. O orientador é exigente demais, uma monografia não é uma tese de doutorado; Fomos à defesa, cujo resultado foi sua reprovação! Quem foi o culpado? O orientador! Disse certa feita que escrever era como parir, embora nunca tenha feito tal ato, mas uma orientanda confirmou a tese, afirmando: "eu que já tive dois lhe digo: é muito pior!" Um doutorando ameaçou matar seu orientador caso não o levasse à defesa. O orientandor era Remi Hess, o lugar: a França! O que se percebe é que no ambiente acadêmico, aqui ou em alhures, a pesquisa estimula a vaidade e faz com que muitos medíocres pensem que são gênios...
*HESS, Remi. Produzir sua obra: o momento da tese. Brasília: Liber Livro Editora, 2oo5.
Um comentário:
Texto gostoso de ler, este, viu? Leve, engraçado e com grandes verdades. Tive a sorte de ver em ação uma das "borboletas", ver a defesa de uma monografia de conclusão do curso de Educação Física que mais parecia uma dissertação de mestrado e olha que nem sou da área!
Pena que os paquidermes são em maior número... tomara que isso mude!
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