domingo, 11 de fevereiro de 2007

Clarisse

Estou cansado de ser vilipendiado, incompreendido e descartado
Quem diz
que me entende nunca quis saber
Aquele menino foi internado numa clínica
Dizem que por falta de atenção dos amigos, das lembranças

dos sonhos que se configuram tristes e inertes
Como uma ampulheta imóvel,
não se mexe, não se move,
não trabalha.
E Clarisse está trancada no
banheiro
E faz marcas no seu corpo com seu pequeno canivete
Deitada no
canto, seus tornozelos sangram
E a dor é menor do que parece
Quando ela
se corta ela se esquece
Que é impossível ter da vida calma e força
Viver
em dor, o que ninguém entende
Tentar ser forte a todo e cada amanhecer
Uma de suas amigas já se foi
Quando mais uma ocorrência policial
Ninguém entende, não me olhe assim
Com este semblante de bom-samaritano
Cumprindo o seu dever, como se eu fosse doente
Como se toda essa dor
fosse diferente, ou inexistente
Nada existe p'ra mim, não tente
Você não
sabe e não entende
E quando os antidepressivos e os calmantes não fazem mais
efeito
Clarisse sabe que a loucura está presente
E sente a essência
estranha do que é a morte
Mas esse vazio ela conhece muito bem
De quando
em quando é um novo tratamento
Mas o mundo continua sempre o mesmo
O
medo de voltar p'ra casa à noite
Os homens que se esfregam nojentos
No
caminho de ida e volta da escola
A falta de esperança e o tormento
De
saber que nada é justo e pouco é certo
E que estamos destruindo o futuro
E que a maldade anda sempre aqui por perto
A violência e a injustiça que
existe
Contra todas as meninas e mulheres
Um mundo onde a verdade é o
avesso
E a alegria já não tem mais endereço
Clarisse está trancada em
seu quarto
Com seus discos e seus livros, seu cansaço
Eu sou um pássaro
Me trancam na gaiola
E esperam que eu cante como antes
Eu sou um
pássaro
Me trancam na gaiola
Mas um dia eu consigo resistir

E vou voar pelo caminho mais bonito
E Clarisse só tem 14 anos...


Legião Urbana

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