"Mandei uma foto bem bacana para você, veja aí", avisa um amigo pelo celular, isso às 7:00, horário de Brasília. Fico na dúvida, vejo logo ou continuo o que estou fazendo e olho depois? O "bem bacana" me obrigava a verificar o que teria sido enviado. Para minha surpresa, o que vejo não tem nada de bacana. Presos se rebelaram no município de Feira de Santana, na Bahia, e meu "amigo" teve a "gentileza" de compartilhar comigo a imagem dos que foram decapitados! Incrédulo, não acredito no que vejo, na realidade, o que me deixou desanimado é que não era ironia, quem compartilhou acredita que também faço parte desse grupo de pessoas que se "excitam" com esse tipo de material. Pensei que fosse um acidente de percurso, que não receberia outras iguais ou piores, mas percebi que se tornaram corriqueiras, "sabe de nada, inocente", diria aquele antigo "cantor" baiano.
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Não são apenas as fotos que fazem parte dessa febre mórbida, os vídeos são um veículo que extrapolam com sua profusão de imagens, e como quase todo celular hoje tem uma resolução interessante, as tragédias chegam em alta definição! Falando nisso, uma pessoa significativa, de quem eu gostava muito, sofreu um acidente abominável, o carro em que viajava teve a infelicidade de estar próximo ao caminhão que transportava combustível; alguém, cheio de "solidariedade" enviou as imagens do carro e da pessoa sendo consumidos pelas chamas e quem fez essa "bondade", não satisfeita com a sordidez das cenas, se prontificava a "narrar" o que estava acontecendo; agora eu lhes pergunto: para que eu ia querer ver uma pessoa tão querida queimando no interior do veículo, já não me bastava a dor da perda? O que me acrescentaria enquanto ser humano? Será que a pessoa pensou que sou um masoquista? Ou o miserável não passava de um sádico na sua mais completa acepção?
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Na linha do que estamos dizendo, a bola da vez é Cristiano Araújo. Desde 24/06/2015, dia em que morreu em acidente automobilístico, há sempre um pormenor a ser acrescentado à "ópera" em que transformaram sua morte, sempre há um detalhe novo que deixou de ser percebido pelos peritos! A mídia ávida pela miséria nossa de cada dia descarrega uma profusão de imagens para o deleite de todos. Uma perda, "ele era tão jovem", isso quer deixar transparecer que há uma alma bondosa na rede televisiva, mas é tudo pela audiência! Como todos querem ver as "novidades", correm sequiosos para frente da TV para saber qual é o dado mais recente sobre a morte do cantor! Não satisfeitos com toda essa morbidez cadavérica, profissionais da saúde, que deveriam evitar esse constrangimento, tiveram a "curiosidade" de filmar, expondo descaradamente o corpo aberto no Instituto Médico Legal. Pensei com os meus botões: "isso é obra de pessoas insanas, pessoas que não dignificam a profissão que exercem, por isso, precisam urgentemente de tratamento psiquiátrico; na verdade, quem em sã consciência desejaria ver seu ídolo ou cidadão comum inerte, exposto de forma tão acintosa? Quem daria audiência a um "espetáculo" tão grotesco? Será que as pessoas gostam de imagens tão torpes? Nos tornamos tão insensíveis a ponto de tornar a exposição das vísceras de um cantor espetáculo circense? Sim, infelizmente, pela profusão em que são compartilhadas, deve ser um exercício extremamente prazeroso, as pessoas se deliciam em mostrar e falar a respeito. Não, por favor, não me digam que essa crueldade é parte intrínseca do ser humano, não, não somos assim, mas estamos cotidianamente aprendendo a ser...
7 comentários:
Eu não consigo compreender esse esforço que as pessoas imprimem para serem tão desagradáveis. Que lógica é essa de sentir prazer com as desgraças alheias? Não vejo ninguém se preocupando em discutir o sistema de transporte de cargas, o grande causador de acidentes nas BR, mas quando acontece um acidente com alguém próximo, ou famoso... reacionários e sempre no nível da superficialidade.
As redes são essas facas de dois gumes que acaba nos expondo a esse tipo de gente rasa!
Minha Parente Querida, há vida em vênus, j em marte, não sei...
Grande amigo como sempre um belo texto.Em tempo de pobrezas de almas e polêmicos querendo "curtir" em redes sociais, esses seus textos são gotículas de água em nossas almas sedentas.
Abraço!
Juliano Pitombo.
Observação: Não conseguir provar que não sou robô, nesse contexto e pre-contexto de vida de gado atual.
Juliano, para fugir do padrão, Pitombo é muito mais original! Obrigado pela visita, ainda bem que as palavras não ecoam sozinhas, têm essas "almas" que as reverberam! Espero revê-lo sempre!
Juliano, para fugir do padrão, Pitombo é muito mais original! Obrigado pela visita, ainda bem que as palavras não ecoam sozinhas, têm essas "almas" que as reverberam! Espero revê-lo sempre!
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