Celebrava-se a última ceia.
-Todos te amam, ó Mestre! - disse um dos discípulos.
-Todos, não - respondeu gravemente o Mestre. - Conheço alguém que me inveja e, na primeira oportunidade que se apresentar, me venderá por trinta moedas.
- Já sei a quem te referes - exclamou o discípulo. - Ele também me falou de ti.
-A mim também - acrescentou outro discípulo.
- E a mim, e a mim também - disseram todos os outros (todos menos um, que permanecia em silêncio).
- Mas és o único - prosseguiu o que havia falado primeiro. - E para provar o que digo, diremos seu nome em coro.
Os discípulos (todos menos aquele que se mantinha mudo) se olharam, contaram até três e gritaram o nome do traidor. As muralhas da cidade estremeceram-se com o estrépito, pois eram muitos os discípulos e cada um havia gritado um nome diferente. Então, o que não dissera nada saiu à rua e, livre de remorsos, consumiu sua traição...
* Jordi Liost: El Evangelio heretico, traduzido do catalão por Marco Denevi.
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