sábado, 12 de dezembro de 2009

Falácias...


Sempre achei falaciosa a posição que afirmava que as cotas eram um direito porque nas entrelinhas anuncia uma extensão para todos, quando na verdade apenas alguns serão beneficiados, ou seja, uma "aristocracia negra" bem situada. A idéia de que o ensino superior é um dos caminhos da "reparação" é inconsistente, aponta como "salvação da lavoura" justamente o extremo (e quanto à educação básica?) sem levar em consideração que o acesso não garante que o portador do diploma tenha as oportunidades anunciadas, mesmo porque só alguns diplomas serão "valorizados"! Então, qual a razão de não se colocar o fim do vestibular neste "pacote"? Sem contar que a exploração sequer é discutida, no fundo, ela é estimulada. Lembro-me que já foi mais incisiva, no início a idéia era trazer os EUA aqui para dentro (era o discurso dos pretos estadunidenses da década de 1960, do século passado). Neste sentido, as cotas tinham que ser raciais e não sociais, esse era um dos slogans mais difundidos. Dizer que não há preconceito no Brasil é de uma insensatez sem precedentes, porém encobrir esse preconceito com a inserção na universidade é perverso para com aqueles que mesmo com as cotas, dentro da formação social que vivemos, cuja base de sustentação é a exclusão, não conseguirão o tão propalado acesso, o que as cotas não dizem é que não há lugar para todos!
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Não tenho nenhuma dúvida de que quem defende o acesso à universidade através das cotas não concordará uma linha com o que foi dito até aqui. Respondo para esses, com uma analogia, quiçá perversa. Diria que aqueles que entrarão via cotas terão marcada na pele, assim como os ladrões e assassinos outrora eram marcados, uma letra, uma indicação insidiosa de que seu ingresso no ensino superior dependeu de outros caminhos! Alguns dormirão mais tranqüilos por saber que muitos dos negros que estarão nas univesidades tiveram sua ajuda, por conta de sua participação na luta pela política de ações afirmativas!
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Por meio de uma ação muito parecida outra parte da "aristocracia negra" obteve sua porção em um setor do mercado de que estava apartada, isto é, do mercado publicitário, com a inserção de um percentual de negros na veiculação de produtos, de bens de consumo. Em alguns comerciais essa inserção chega a ser risível, mas vá lá, sejamos sensatos, permitiu que se observasse que entre os "bem de vida", existem alguns que são pretos, o país não tem aquele perfil que os "antigos" comerciais anunciavam, somos uma "democracia" e isso é perceptível nas oportunidades que todas as cores têm na divisão do bolo!? Todos devem estar lembrados que uma das brigas era que as novelas só utilizavam os pretos nas posições subalternas! Sem querer entrar na polêmica, mas as novelas, não sei se sem querer, mostravam a realidade, na sociedade brasileira grande parte dos pretos ocupa posições subalternas, enquanto uma minoria consegue se destacar, e era essa minoria que se sentia ultrajada por ter em novelas sempre os mesmos personagens! Isso era muito ruim para a sua/nossa auto-estima! Um dos "baluartes" desse empreendimento foi o ator Milton Gonçalves que numa dessas novelas representou um psicanalista, um marco para os atores pretos, estariam mudando as relações socais e econômicas no Brasil antes mesmo das cotas?!
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O que essas pessoas não sabem é que a "mão invisível" do mercado é impiedosa, ou será que sabem? Como os pretinhos não queriam mais os papéis subalternos: empregadas domésticas e afins, esses começaram a ser ocupados por outras "cores", isso é o que podemos chamar de ação politicamente correta! Parece que o feitiço virara contra o feiticeiro! Todas as "empregadinhas" das novelas passaram a ser brancas ou "parecidas"! Neste momento, está em cartaz na Globo uma minissérie cujo título é Cinquentinha. Até aí nada de mais, afinal, esses "enlatados" globais fazem parte do nosso cotidiano televisivo há bastante tempo. Agora, o que nos chama a atenção é que no papel de empregada doméstica está uma das figuras representativas na briga por papéis que demonstrassem que o óbvio não era óbvio na televisão brasileira! Zezé Mota faz a típica empregada. Por que logo ela que fora porta-voz na luta contra os papéis pequenos e apagados, está fazendo justamente um papel pequeno e apagado?! Fazer o que a Zezé está fazendo qualquer atriz faria, chega a parecer uma "pontinha", e na realidade, é! Onde estão os argumentos que cobravam papéis significativos para a "aristocracia negra"? Na verdade, a "mão invisível" do mercado, o capital, definiu suas necessidades, aqueles que concordarem com os parâmetros estão dentro, os que não, bem, a porta da rua é a serventia da casa e isso vale também para aqueles que são partidários das cotas...

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