"A vida imita a arte", esse talvez seja o clichê mais clichê que conhecemos, contudo, por motivos desconhecidos, reaparece a todo instante com uma força avassaladora. Quando pensávamos que vivendo num país com as peculiaridades que tem o Brasil, nada mais poderia nos surpreender, que as barbaridades já tinham chegado aos limites do possível, eis que somos presenteados com cenas que poderiam fazer parte de quaisquer desses filmes violentos onde a quantidade de balas disparadas é superior a qualquer diálogo entre as personagens, aqueles onde os corpos tombam perfurados a cada segundo como se isso fosse a coisa mais natural do mundo! Juro que quando vi o helicóptero da policia do Rio de Janeiro em chamas, pensei que aquilo era cena de cinema! É certo que no ano passado vimos, por ironia, também de um helicóptero, "bandidos" sendo abatidos nos morros por atiradores de elite do Bope em rede nacional! Ou seja, é a banalização gratuita da violência nesse nosso vil cotidiano. É preciso que se diga que o que está acontecendo no Rio de Janeiro é a parte mais visível do grande iceberg que é a violência urbana e que aqueles que são responsáveis pela direção do Estado fingem que pode ser resolvida com helicópteros blindados, mais policiais, mais armamentos, com isso não é necessário ir à raiz da questão, afinal, já resolvemos todos os outros problemas como a fome, a educação, a saúde, não nos esqueçamos que somos um país olímpico e que o Rio de Janeiro é a sua sede, vibremos com a possibilidade das futuras medalhas e as lágrimas que virão!
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Quando falei na postagem "Vida de Cachorro" que aquele mendigo não iria assistir nem a copa nem a olimpíada, é bem provável que aquela história de ver "pelo em ovo" tenha vindo às mentes de algumas das pessoas que admiro, ora, tínhamos acabado de ver o "chora Brasil" revivido com toda a intensidade que mídia conseguiu nos brindar! Ficamos todos imbuídos do espírito olímpico, como foi emocionante ver em rede nacional o discurso do chorão mor do país e a vibração do povo nas ruas e nas suas casas quando o nome da cidade vitoriosa foi anunciado. Esqueceram de dizer aos traficantes que tiroteio e mortes maculam a imagem da cidade! Tem coisas que ainda me espantam, por estarem no terreno do nonsense. As cenas que possibilitaram a vitória do Brasil, diga-se o Rio de Janeiro, como sede dos jogos foram estonteantes, contudo a pobreza e miséria foram omitidas, totalmente descartadas! O que fez Fernando Meirelles na direção daquelas cenas é digno de Oscar. Não faltou, como já é de praxe, a masturbação global que encheu todas as medidas, mas diria um grande sábio: "isso faz parte do grande circo do qual somos os palhaços!" Não, não se parece com o pão e circo romano, é muito pior, mas deixa isso para depois, agora o momento é de vibração com nossas futuras medalhas: ouçamos nosso querido Galvão Bueno nos dizendo qual é o momento que devemos gritar a plenos pulmões que somos campeões olímpicos, não é mesmo?!
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6 comentários:
Estamos prestes a ver a "operação papa" (tropa de elite) se transformar na "operação olímpica". Será que o Bope vai ser o responsável pela Limpeza????
No pan, algumas semanas antes, o Rio estava em Guerra Civil declarada. Os jornais a todo o instante nos bombardeavam com as notícias. Um semana depois, a mesma cidade era de fato MARAVILHOSA! Ninguém morreu, ninguém matou. Quase que imediatamente os jornais silenciaram...
Será que a "operação olímpica" vai ser igual?
Os "Netos" do Bope deixarão as coisas em "paz" para os atletas de todas as delegações se divertirem na bela cidade do Rio de janeiro. Só que precisaremos nos preparar, pois ao final, a Guerra Civil torna a começar.
Nós que aqui estamos, por vós esperamos...
Pois é, Manuela, coloquei sempre bandidos entre aspas por ter muitas dúvidas sobre quem é quem, como as ironias andam grassando por aqui. Evandro João da Silva, coordenador do grupo cultural AfroReggae, foi morto em um assalto no último domingo, no Rio de Janeiro e os policiais além de não prestarem socorro imediato, ainda tomaram das mãos dos "bandidos" os pertences da vítima, liberando um dos criminosos, ou seja, não se ataca o problema, busca-se uma solução para o imediato, a polícia é corrupta, sendo isso uma das causas da sobrevivência do tráfico, mas o buraco é mais embaixo...
Estava assistindo o jornal hoje pela manhã e soube que o Governador do Rio de Janeiro exonerou um e mandou prender os policiais. O que estes não contavam era que o caso de um "preto saindo do banco" sendo morto, fosse causar tanto frisson. Para o "azar" dos policiais, o rapaz era famoso e o caso não virou mais um na contagem (ainda!) de mortos do RJ. Se ele fosse "preto, pobre e favelado" receberia o mesmo cartaz? Alguém seria exonerado?
Além de não se atacar a raiz do problema, que como vc mesmo disse é muito mais complexa, dependendo de quem seja o caso é ou não investigado. As pessoas são medidas pela sua condição social, seu poder aquisitivo e, ainda hoje, por sua cor!
Mais uma vez se tentou resolver o imediato. O exonorado e os que estão presos são apenas a ponta desses imenso iceberg...
Manuela, Mary tem uma tese muito interessante sobre o ocorrido, na verdade, extremamemente polêmica, mas com uma possibilidade muito grande de ser verdade, justamente porque o Evandro João trabalhava com grupos de pessoas que a polícia tem em mira, ou seja, pretos, pobres e outros desvalidos, esses podem ser mortos e quase ninguém cobra além dos familiares, aqui no caso, o coordenador tinha visibilidade, ainda que estivesse no "grupo" dos miseráveis...
A tese, na verdade, não passou disso. Nada foi provado, nada se concluiu na direção dela. Mas, num primeiro momento foi o que me chamou a atenção. Ele era negro, encabeçava um movimento que teve início a partir de uma chacina ocorrida no Rio de Janeiro (futura sede de olimpíada... mas sobre isso eu falo no post correspondente), se bem que este movimento nada tinha de contestador... Não acredito que hajam novos fatos que ratifiquem minha tese... Inquérito concluido, ponto final(?)...
A tese, na verdade, não passou disso. Nada foi provado, nada se concluiu na direção dela. Mas, num primeiro momento foi o que me chamou a atenção. Ele era negro, encabeçava um movimento que teve início a partir de uma chacina ocorrida no Rio de Janeiro (futura sede de olimpíada... mas sobre isso eu falo no post correspondente), se bem que este movimento nada tinha de contestador... Não acredito que hajam novos fatos que ratifiquem minha tese... Inquérito concluido, ponto final(?)...
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