Vocês devem lembrar, mas vou repetir, muito mais por uma necessidade da argumentação do que por diletantismo! O ano era 1998 - é, faz quase 10 anos! - quando aportei em Jequié, acreditando que poderia construir um caminho novo, reconheço que ainda cheio de sonhos e querendo ver coisas que não existiam. Havia uma frase que repetia muito em sala de aula e que depois foi muito repetida, com uma certa ironia por todos nós, depois da queda dos sonhos, era: "eu vejo seus olhos brilhando". O que na verdade se queria dizer é que havia uma enorme desejo de aprender e a metáfora traduzia com certa beleza aquilo! Passado o tempo, percebo que vemos, sempre, aquilo que queremos ver! Como essa é uma carta aberta, achei necessário dizer qual era o espírito da época, como me sentia com relação às coisas e fazendo a "mea culpa", que muito do desejo era meu, talvez o ego, a vaidade estivesse à flor da pele! Na verdade, mesmo que estivesse enganado com o brilho dos olhos de vocês, foi possível, naquelas condições, em que o curso não tinha quase nada, que vivíamos muito mais pelo desejo, "juntar" um grupo de pessoas com vontade e que acreditaram no "brilho dos meus olhos". Para se ter uma idéia do sonho, certa feita uma das pessoas, de forma jocosa, perguntou-me: "Mano, qual é o melhor curso de Educação Física do Brasil" e eu, mais que rapidamente, respondi: "o nosso, eu estou aqui"! Como o momento era de "cimento, areia e água", havia uma outra frase que passou a ser uma espécie de aforismo daqueles que estavam próximos: "bem-vindo ao mundo dos que podem transformá-lo"!
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Éramos felizes e não sabíamos! Não tínhamos "responsabilidade" com ninguém, estávamos experimentando, o que na linguagem popular quer dizer: "o que vier é lucro"! Fizemos coisas no interior da Bahia, e naquelas condições, muito interessantes e, o que é mais importante, sem fazer pactos, sem abrir mão daquilo que acreditávamos! Lembro com saudade, sim, tenho saudade daquela ingenuidade boa, quando as nossas conversas varavam a madrugada, fazíamos planos e mais planos. Fizemos um projeto de extensão que a primeira "versão" mostrei com giz na mesa da cantina! Naquela oportunidade, podíamos tudo. A Legião "escreve" certo por linhas tortas e neste momento de recordação me vem à memória, sem nenhuma intenção de rima, "Andrea Doria" e é nela que o Poeta Russo traduz, de forma impecável, aqueles tempos vividos por nós outros como se fizesse parte também do sonho, diz ele: às vezes parecia que, de tanto acreditar em tudo que achávamos tão certo, teríamos o mundo inteiro e até um pouco mais: faríamos floresta do deserto e diamantes de pedaços de vidro. Mas percebo agora que o teu sorriso vem diferente, quase parecendo te ferir...às vezes parecia que era só improvisar e o mundo então seria um livro aberto, até chegar o dia em que tentamos ter demais, vendendo fácil o que não tinha preço..."
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Bem, quase dez anos depois, olho para trás, meus camaradas, e vejo que o aprendizado talvez só não aconteça com as pedras, mas disso não tenho certeza, o que é uma grande ironia para um materialista convicto, nestes tempos de UESB, fui feliz e infeliz numa velocidade vertiginosa, acreditei em coisas que só as crianças acreditam, não por serem ingênuas, mas por ainda não pensarem na lógica dos adultos, que estão contaminados pela lógica da formação social em que estão imersos, estes já temem perguntar por que?, por que?, por que?, pergunta tão comum entre as crianças! Machuquei, mas também fui machucado, embora isso não queira dizer que o "jogo" está zero a zero ou um a um, as feridas podem ser "eternas", as cicatrizes podem não apagar tudo aquilo que a ferida causou, todas as dores! Disse uma vez a um desses camaradas que "passaram" pela minha história que quando voltasse a confiar nele, poderíamos retomar o caminho sem hipocrisias ou ressentimentos! Já estou cheio desses acordos pequeno-burgueses que são estabelecidos onde a lógica é fingir que está tudo bem para que os outros não digam que nós não conseguimos pactuar com ninguém, ou seja, que brigamos com todo mundo, mas não é pior não brigar e ficar igual a esses casais que não se suportam, todo mundo sabe, mas eles para manter as aparências continuam juntos e muito infelizes? Conheço um bando deles, essas relações acontecem bem perto de nós, ficamos juntos só para manter as aparências, para que as pessoas não digam, embora elas digam, que o nosso casamento fracassou!
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Hoje, militando em um grupo de estudos criado por antigos estudantes, alguns nem tão antigos assim, que resolveram pensar o seu fazer cotidiano, buscar alternativas, construir um coletivo, espere aí, o grupo ainda não disse de forma clara qual é a estratégia, ainda não disse o que pretende efetivamente, mas tem uma coisa que o grupo já definiu e isso parece que todos concordam, é que é o GRUPO quem vai decidir, quem vai produzir seus próprios caminhos! Onde vamos chegar, não faço a menor idéia, mas uma coisa tenho certeza, não vejo mais seus olhos brilhando. Há uma espécie de "dor" contida em cada olhar, que não é possível traduzir por palavras, estamos mais "duros", mais frios. Aprendemos a criticar e muito bem, até os mais "novinhos", mas percebo que continuamos "ressentidos" com as críticas! Quando aquele "grupo" quebrou, não nos perguntamos, ao longo do caminho, em nenhum momento, o que cada uma daquelas pessoas queriam, na realidade, pensava-se que todos queriam a mesma coisa e o que aconteceu todos sabemos. E hoje, o que queremos mesmo? Estamos apontando para a social democracia européia que caiu de podre ou para a ruptura? Vou ali beber mais um copo d'água...
Um comentário:
Nossa, fiquei sem palavras. A emoção me tomou...
É por essas, e tantas muitas outras coisas que amo você.
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