segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Reveillon em 4 atos...

1. "Deixe eu brincar de ser feliz, deixe eu pintar o meu nariz"... Festas de final de ano são muito parecidas, desde a roupa que pretendemos usar (já houve o "império do branco", mas como vivemos sob a égide de um modo de produção que transforma tudo em dinheiro, outras cores já começam a se insinuar) até o lugar que vamos esperar a "mudança",(quando era criança sofria horrores! Minha mãe não nos deixava dormir antes da meia-noite para que o ano velho não passasse por cima de nós!) não nos esqueçamos da tradicional reunião familiar que, às vezes, soa de uma hipocrisia assustadora! Some-se a tudo isso, uma necessidade tremenda de fazer um balanço dos nossos atos. Aquilo que se concretizou, aquilo que tinha tudo para dar certo e foi por água abaixo! "Mas no ano que vem, se Deus quiser, compro um carro novo!" Todo final de ano é assim: mais do mesmo! É a forma que encontramos para tornar as coisas mais tangíveis, mais palpáveis, ou seja, precisamos alimentar nossos sonhos, sem eles, nos tornamos bestas! Quando os fogos começam a espocar todos se abraçam, conhecidos e desconhecidos, unidos numa aldeia global, todos muito felizes, todos querendo que aquele minuto seja "eterno" que a felicidade dure o ano inteiro! "Prometo ser uma pessoa melhor no ano que vem!"
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2. Em tempos do leptop, já não se escreve mais a mão! Religiosamente, esse escriba faz uma versão manuscrita e só depois joga na máquina! Os que ainda se utilizam desse expediente são chamados de jurássicos, estão totalmente ultrapassados, dirão aqueles que se sentem na crista da onda, eta, expressão antiga, não?! O que essas pessoas não sabem, e vejo isso todos os dias, em sala de aula, é que paulatinamente estamos deixando de trabalhar a nossa coordenação motora fina que está associada intimamente à coordenação óculo manual, mas me digam com sinceridade: será isso tão importante?
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3. O que tinha em mente quando articulei o blog, e já disse isso, era criar um espaço de interlocução com as pessoas que estudavam o autor soviético Lev S. Vigotski, numa perspectiva diferente daquela que o associava ao construtivismo, ao famoso jargão "aprender a aprender", e com isso ampliar as possibilidades de estudos e pesquisas! O interessante é que no fundo no fundo, o que desejava era escrever, exercitar os neurônios, para não perder a embocadura! Acho que foi bem razoável o que escrevi neste 2007 que chega ao fim. Foram mais de 100 postagens, em que pude me divertir à beça. Tenho algo que devo acrescentar, você termina aprendendo a escrever! Certa feita, conversando com um amigo dileto, disse-lhe que os concursos e seleções que exigem que as pessoas escrevam são os mais interessantes, já que aqueles em que são pedidos os famosos "X", igualiza todo mundo, no sentido negativo, pois tanto aquele que sabe, como aquele que "chuta", e quando este chuta bem, termina se saindo melhor que aquele que estuda. Não tenha nem dúvida, ele é um franco-atirador, o que vier é lucro! Digo sempre que as famigeradas provas dos "X" promovem um "emburrecimento" avassalador!
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4. Bum! Bam! Zás! Escutemos, é 2008 que brada pedindo passagem! Já o esperávamos, sim, que ele venha com toda a sua ternura e bom humor! Estamos todos de branco, nossas camisas e blusas trazem uma inscrição, bem em cima do coração, daquilo que desejamos para o ano novo, não importa se, às vezes, sequer entendemos o que está escrito! Isso é de somenos importância. Sejamos sinceros: o que esperamos de dois mil e oito? O que queremos neste momento? Quais são os nossos pedidos mais prementes para ele? Seria menos corrupção? Mais empregos? Mais felicidade? Mais segurança? Mais alimento? Mais dinheiro no bolso? Mais saúde? Mais educação? Mais amor? Mais e mais, mas menos solidão de aeroporto...

sábado, 29 de dezembro de 2007

Cássia Eller...

É bem provável que muita gente tenha "descoberto" Cássia Eller por causa daquela canção do Poeta Russo intitulada "Por Enquanto" que é, na realidade, um verdadeiro hino de exaltação à sensibilidade. Neste caso, ela deu um "tom" todo especial, coisa que o próprio autor, reiteradas vezes, reconheceu. Gostava de ouvi-la na voz da Cássia! A dura realidade é que sofri de maneira idêntica com o desaparecimento dela e do Renato Russo. As pancadas foram muito parecidas! A dor indescritível, a perda inigualável! Tinha uma amiga que costumava me ligar em horas incomuns, por isso, a apelidei de "má notícia", isso porque trazia esse de tipo de informação de forma recorrente! Naquela noite, quando soube quem era, ao telefone, perguntei, em tom de brincadeira: "quem morreu dessa vez?" A resposta todos sabemos, foi como um murro na boca do estômago! Era 29 de dezembro de 2001, às 19h05, naquele momento, o coração de Cássia Eller deixara de bater definitivamente, porém seu desaparecimento era apenas físico, a mulher que cantava visceralmente, cujo canto saía das entranhas, e por isso, tornava-se único e belíssimo, agora não mais cantaria! A mulher de tantas faces, "quem sabe ainda uma garotinha" fora do palco, mas absolutamente senhora dele quando lá estava, silenciava-se para sempre, mas 'o pra sempre, sempre acaba'!
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Aconteceu algo imperdoável! Perdi o último show que ela fez na terra de Waly Solomão. Lembrar de Cássia, neste momento, não tem como objetivo escrever um necrológio, muito pelo contrário! Falar de Cássia é falar de vida pulsando em cada artéria! Devo dizer que, mesmo sem sua presença física, seus sons continuam ecoando dos tocadores de música espalhados pelos diversos rincões! Ela está presente tanto nas telinhas, como também nos espaços sofisticados que valorizam sua forma única de cantar! O que almejo, ao recordar essa trajetória cheia de beleza e ternura, é mostrar que "mudaram as estações", mas ela continua aqui, intacta, vibrante, cantando como nunca! Não, nada de choro, vamos comemorar, sim, vamos celebrar, não a perda, que esta é irreparável, mas sim a felicidade de mesmo tendo deixado de existir, ela continua cada vez mais Viva! Lembro-me de uma frase pronunciada pela Nana Caymmi, a despeito da sua interpretação da música "Por Enquanto", dissera Nana: "alguém tem que avisar pra essa menina que ela tem que ter cuidado com a voz!" Havia ali uma sinalização de que o canto de Cássia era cru, precisava ser lapidado, e alguém do alto da sua sapiência, estava querendo dizer isso para ela, já que de canto Nana entendia, portanto que Cássia a ouvisse, sob pena de deixar de cantar muito antes pelo uso indevido da voz. O que sabemos é que não foi por não ouvir os conselhos que seu canto sumiu no horizonte, não foi isso que a tirou de nós, Por Enquanto...
Mudaram as estações
nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente
Se lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
sem saber
que o pra sempre
sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar
o que ficou
Quando penso em alguém
só penso em você
E aí, então, estamos bem
Mesmo com tantos motivos
pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar,
agora tanto faz...
Estamos indo de volta pra casa
Mudaram as estações,
nada mudou
Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Tá tudo assim, tão diferente
Se lembra quando a gente
chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
sem saber
que o pra sempre
sempre acaba
Mas nada vai conseguir mudar
o que ficou
Quando eu penso em alguém
só penso em você
E aí, então, estamos bem
Mesmo com tantos motivos
pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar,
agora tanto faz...
estamos indo de volta pra casa...

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

"Vencedores"...

"Olha lá, Quem vem do lado oposto vem sem gosto de viver, Olha lá, Que os bravos são escravos sãos e salvos de sofrer, Olha lá, Quem acha que perder é ser menor na vida, Olha lá, Quem sempre quer vitória e perde a glória de chorar " M.C.
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A epígrafe em destaque dá uma idéia mais que perfeita de como os sujeitos nada mais são do que um objeto dentro do esporte, nada mais que mercadoria vendendo uma marca, um produto e ao mesmo tempo sendo um produto de consumo! Ainda que as palavras que gravitam em torno do fenômeno esportivo sinalizem para algo voltado para o bem-estar, para a ética, do tipo: saúde, caráter, ousadia; geralmente a imagem do esportista está associada àquilo que deve ser seguido como exemplo, mas quando acontece os "escorregões", as portas se fecham e o "infrator" é colocado como se fora o único responsável pelo "crime", haja vista o caso recente da nadadora Rebeca Gusmão! Será que ela sozinha se articulou e conseguiu burlar toda uma equipe na troca de "urinas"? Não será mais embaixo o buraco? Do mesmo modo, não se pode levar em consideração o que disse seu pai, magoado com o tratamento dispensado à filha, suas palavras indicam que a atleta está envolta em uma teoria da conspiração, sendo uma vítima de forças "ocultas"!
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O ex-atleta canadense, Ben Johnson, flagrado no exame antidoping, em Seul, disse três coisas que merecem uma reflexão profunda por parte de todos aqueles que estão envolvidos com o mundo esportivo. Na primeira, ele afirmou: "meu médico me disse que não me deu nada que pudesse aparecer em um exame antidoping. Mas foi encontrado estanozolol na urina e isso é algo que eu nunca tomei". Como não há inocentes no esporte, as altas somas estimulam as buscas desenfreadas pelos recordes, pela vitória, alguém usou algo ilícito, é lógico que sugerido por alguém, ou seja, todos estão envolvidos, desde a marca que patrocina o atleta até aquele dirigente que vê na quebra do recorde uma escada para outros vôos muito além do esporte! Na segunda, Johnson, mais maduro e mais atento para os perigos do doping, salientou: "enquanto os jovens tiverem ambição de ganhar grandes prêmios em dinheiro, farão tudo para conseguir". Como gado indo para o matadouro, tudo farão para se tornar celebridades, terem seus nomes nas gazetas esportivas da vida, não importam os meios, desde que não sejam flagrados! Mas é na terceira afirmação que Johnson fulmina com todos os grandes "vencedores", diz ele: "eu acredito que todos os atletas de alto nível usam drogas para melhorar a performance". Ele disse todos! A quem interessa uma afirmação desse tipo? Quem encobre a farsa do recorde feito à base de substâncias proibidas? Quando Joaquim Cruz pôs em xeque a performance de Florence Griffith-Joyner, foi duramente criticado, contudo as marcas dela continuam imbatíveis, ainda que tenha morrido prematuramente havendo indícios que a causa tenha sido o uso de drogas! O silêncio responde!
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Qual é o preço que se deve pagar pela vitória? Essa talvez seja a pergunta recorrente nas cabeças dos atletas de alta performance. Estamos falando entre outras coisas de uma questão ética/moral. Até onde um atleta pode ir sem correr riscos? Como estamos sob a égide de um modo de produção em que a exploração do trabalho é a sua marca registrada e a alienação seu ponto de partida, isso leva a disputas mais que ferrenhas, todos querem ser mais, ter mais e não importa como isso se dará, o processo de alienação faz com que todos desejem ser explorados! Que coisa, não? Todos com o mesmo desejo de ser vistos como coisa, como um produto! Quem chegar na frente terá sua cota, sua parte no bolo! Como "tudo que se move" vira mercadoria, o atleta é uma mercadoria, portanto, cabe um "investimento" para a sua valorização!
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A ciência entra na competição para tornar possível que os corpos rompam seus limites, mas isso pode levar o coração a patamares perigosos! Este, como uma bomba, tem seu limite de batidas, as mortes prematuras têm mostrado essa obviedade! É possível ampliar esse limite? Quem pode melhorar o desempenho para além do treinamento são os anabolizantes e afins! Como estamos falando de atletas de alto rendimento, significa dizer que o nivelamento que o treinamento proporcionou, na verdade, criou um grande problema, um beco meio que sem saída! O que fazer para superar um adversário cujo capacidade e resistência são semelhantes às suas? Numa corrida de 100 metros, quase já não é mais possível saber quem foi o vencedor a olho nu! Quando Ben Johnson afirma categoricamente que todos tomam alguma coisa, significa dizer que temos duas competições pararelas! De um lado o atleta "dopado" correndo alguns milímetros à frente, do outro, a ciência na busca desenfreada para fisgá-lo, quem será o vencedor dessa competição atroz? A ciência tem vencido alguns "páreos", mas casos como o de Rebeca Gusmão mostram que alguém vai ter que ceder, antes que, levando em consideração o que disse Johnson, tenhamos mortes em todos os eventos esportivos...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Prefácio...

Emprestaram-me um livro, esses dias, que bem que gostaria que me fosse presenteado, calma! Não estou querendo com isso forçar um "presente", não, não é isso que quero, mesmo porque o exemplar está com uma dedicatória muito carinhosa, ou seja, o livro está "assinado"! Na verdade, é a provocação que o livro traz que me faz escrever no intuito de estimular sua leitura. A obra é resultado de tese de doutorado, de Maria Cristina Soares Paniago, publicada pela Editora da Universidade Federal de Alagoas, (EDUFAL) que vale à pena ser lida. A linguagem é saborosa e o conteúdo denso, mas a escrita da autora facilita a caminhada, digo denso porque a tese se estrutura a partir da obra referência do István Mészáros, "Para Além do Capital", um calhamaço de mais de mil páginas! Trata-se do livro "Mészáros e a Incontrolabilidade do Capital", como não posso colocar o livro inteiro aqui, seria uma tarefa hercúlea e impossível, trago partes do seu prefácio, elaborado pelo Ivo Tonet, que é fascinante, posto que além de desvelar a organicidade da obra, estimula, sobremaneira, a sua leitura, passemos, então, a palavra a Ivo Tonet...
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"Vivemos, hoje, um tempo que eu chamo de 'tempo de covardia'. Covardia por parte da maioria dos intelectuais. Não uma covardia subjetiva, ainda que esse aspecto também possa estar presente. Mas, uma covardia objetiva, isto é, a admissão da derrota da proposta de transformação radical do mundo e, mais ainda, a defesa de que, na verdade, não foi uma derrota de uma causa real, mas simplesmente o reconhecimento de que se tratava de uma aspiração completamente descabida. Segundo esses intelectuais, a pretensão, surgida a partir do século XIX, de que a razão humana seria capaz de compreender o mundo na sua integralidade e de que a ação humana poderia transformá-lo radicalmente não passou de uma utopia sem fundamento real. Desse modo, a verdadeira e única alternativa seria o aperfeiçoamento, a humanização da ordem social capitalista.
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Trata-se de uma covardia porque significa abandonar causa - possível - da construção de um mundo efetivamente igualitário e livre e abraçar a causa - impossível - da construção desse mundo sob a lógica do capital ou mesmo admitir, simplesmente, que a desigualdade social é insuperável. Esta covardia se manifesta tanto entre os conservadores como entre os chamados progressistas. Entre os primeiros, porque, uns mais outro menos, assumiram, conscientemente, a defesa do caminho neoliberal, sabidamente produtor de imensas desigualdades sociais, como a única alternativa para a humanidade. Entre os segundos, de maneira ainda mais expressiva, porque advogavam, embora também com variantes, o socialismo como alternativa possível e superior para a humanidade. E, agora, diante dos monumentais problemas que a humanidade enfrenta, apequenaram-se e, para serem aceitos pelo establishment, isto é, para não serem chamados de 'jurássicos', de ultrapassados, de utópicos; para não estarem sempre do lado dos 'perdedores', passaram a defender o aperfeiçoamento dessa ordem social como a única e melhor alternativa.
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Defender, nesse momento de 'pensamento único' avassalador, a tese de que é impossível controlar o capital, de que não há força nenhuma no mundo capaz de impedi-lo de produzir cada vez mais desigualdades sociais, de que não é possível construir uma comunidade autenticamente humana sob a lógica do capital, exige uma grande dose de coragem intelectual e moral. maior ainda se considerarmos que as profundas e devastadoras derrotas sofridas por aqueles que assumiram a luta pela transformação radical do mundo e pela construção de uma sociedade comunista pareceram comprovar empiricamente a inviabilidade desse projeto. O preço pago por isso é alto, especialmente dentro da academia, mas também fora dela.
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Mas, felizmente, ainda há intelectuais que não se acovardaram nem diante das derrotas, nem diante da imensidade das tarefas. Intelectuais que não proclamam, mas buscam fundamentar, com profundidade e rigor, a possibilidade e a necessidade de superação radical do capital e de toda a sociabilidade que se ergue a partir dele. Entre esses encontra-se um, de enorme estatura intelectual, que teve a coragem de situar-se na linha de frente da luta pelo resgate do instrumental metodológico de caráter radicalmente crítico e revolucionário e pela defesa, racional e rigorosa, do socialismo como forma superior de sociabilidade. Este autor se chama István Mészáros.
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Do mesmo modo, e desde o pleno amadurecimento do capitalismo, no século XIX, inumeráveis tentativas têm sido feitas, por órgãos internacionais e governos de todos os países, no sentido de erradicar a fome, a pobreza, a miséria e as desigualdades sociais de toda ordem. Qualquer pessoa, que percorra, com olhos não preconceituosos, a história, do século XIX até os dias de hoje, perceberá a falência de todas essas tentativas e de como as desigualdades sociais não só não diminuíram, mas, ao contrário, tornaram-se cada dia mais amplas e profundas.
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Ao mostrar como capital, trabalho e Estado constituem uma unidade indissolúvel, comandada pelo primeiro, Mészáros desmonta toda a argumentação daqueles - e são ampla maioria - que pretendem atribuir ao Estado, aos próprios empresários e/ou a organismos da assim chamada sociedade civil a tarefa de impor limites ao capital, obrigando-o a atender as necessidades humanas e não aquelas da sua reprodução.
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A tarefa de expor, de modo sistemático e rigoroso, toda argumentação de Mészáros, em Para Além do Capital, contrapondo-a à de outros autores que sustentam a possibilidade de controle do capital, não é pequena se considerarmos que essa obra tem mais de mil páginas e é de uma grande densidade. Mas, essa tarefa foi realizada por Maria Cristina Soares Paniago com rara eficiência e felicidade. Por isso mesmo, é um livro que nos ajudará a eliminar as ilusões de que é possível construir um mundo igualitário e livre sem a superação radical do capital. Também nos ajudará a solidificar a convicção de que somente a erradicação do capital, através da luta da classe trabalhadora e de todos os que a ela se aliarem, e sua substituição pelo trabalho associado poderá ser o ponto de partida de uma forma de sociabilidade que permita a todos os seres humanos uma vida efetivamente digna"...

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Pessoas Iluminadas...

Há uma canção de Gonzaguinha que, na verdade, representa uma grande metáfora sobre pessoas que povoam nosso universo! Dissera ele que "somos as lições diárias de outras tantas pessoas!" Este é um verso belo e singular, além de nos tornar cientes de nossa humanidade, ele diz: sou? Não, somos! Outro poeta, esse baiano, fez uma indagação a respeito do sentido da vida: "existimos, a que será que se destina?" Sei que este não é o momento, mas não custa provocar, nem que seja a mim mesmo! Por que estamos neste planeta? Faço toda essa elucubração, aparentemente, fora de propósito, por causa de dois processos seletivos que participei. Momentos singulares, por isso, jamais serão esquecidos!
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O primeiro deles se deu quando, há dois anos, tentamos o doutorado na UFPB e sequer imaginávamos o quão doloroso seria e que as consequências posteriores deixariam cicatrizes profundas. Em síntese, ter participado do processo me deu, como "presente", um documento em que estava escrito que o projeto fora aprovado, mas que não fora selecionado! Um verdadeiro prêmio de consolação! Sem contar o tratamento recebido da banca que me argüira. Saibam que estava no Nordeste, mas me senti como se fosse um estrangeiro! Não estou dizendo com isso que devesse ser tratado de forma diferenciada, mas que pelo menos houvesse respeito e isso não percebi no processo, contudo aconteceu algo que me remete à metáfora de Gonzaguinha, lá do início. Quando vou saindo em direção ao portão do campus de João Pessoa, eis que vejo o amigo Lauro Xavier Pires Neto! Isso transformou o meu dia. Além de colocarmos a conversa em dia e almoçarmos, ainda tive o privilégio de assistir à defesa de sua dissertação! Todas essas emoções no mesmo dia! Ainda fui o único a registrar o acontecimento com uma máquina que era analógica, não sei bem por quê, mas queimou o filme, terá sido incompetência do fotógrafo?!
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As pessoas mais próximas a mim sabem que os últimos dois anos foram de recuperação! Nada de procurar assumir coisas que me levassem a um estresse maior do que eu pudesse suportar, embora saiba que não é possível mensurar qual a pressão limite que não devemos atingir, sob o risco de quebrarmos! O "presente de grego" que 2005 me deu foi, aliás já falei exaustivamente aqui, um acidente vascular cerebral que me fragilizou sobremaneira! Disse a mim mesmo que não faria mais seleções, não sei ao certo se por medo de perder ou por me sentir incompetente! Para aumentar a descrença em seleções acadêmicas, ouvi de um professor que sem acordos espúrios a coisa se complica e a aprovação dificilmente acontece! Não me lembro agora quando percebi que poderia participar de outra seleção, mas no início desse ano dei entrada na área pedindo liberação, muito mais para garantir a vaga do que com a certeza que teria coragem de enfrentar tudo aquilo de novo!
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Quando retornei de Santa Catarina, fui enfático ao elogiar o processo seletivo e a lisura no encaminhamento das questões. Disse a todas as pessoas com quem conversei que mesmo que não fosse selecionado, tinha me sentido acolhido, respeitado, como não fora na UFPB (embora ela esteja no Nordeste). Cheguei em Florianópolis sem conhecer ninguém, numa terra estranha e sem ter entrado em contato com qualquer pessoa do programa! Só fomos apresentados aos futuros orientadores no dia da arguição, na defesa dos projetos, já que tudo fora feito pelo número do CPF! Todos os meus amigos já sabem o resultado, mas queria dizer que processos como esses são muito iguais! Ficamos sob tensão doentia, às vezes, chega a ser desumano! Todas as fases, desde a prova até a arguição, foram me dilacerando aos poucos, sem contar o medo, é verdade, o medo de não conseguir! Para variar o resultado final demorou demasiado, aumentando mais ainda o estresse! Meus diletos amigos, saibam que ter conseguido só foi possível pela primeira força que vocês me deram, quando ainda me recuperando do AVC, disseram, sem falar, que eu estava vivo, que ainda não seria dessa vez que eu sucumbiria.
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Como somos "as lições diárias de outras tantas pessoas" e não conseguiria citar todas elas pela exiguidade de espaço, trarei duas figuras emblemáticas que representam muito bem o "início, o fim e o meio"! Rosenilton Santos, hoje um filho que a vida me deu, em outubro, primeiro momento da vereda, no dia da prova, com sua generosidade, ligou para mim, eu em Salvador, ele em Camaçari, e disse-me com a bondade que é característica do seu coração: "vai dar tudo certo, porque você merece, eu estou torcendo!" Ele não tem a dimensão de quanto aquelas palavras foram importantes para que naquele dia eu pudesse escrever e conseguir que o projeto fosse avaliado! O outro personagem dessa história com final feliz, chama-se Alysson de Gouvêa. Na rodoviária, lá em Curitiba, na hora em que pegaria o ônibus para Florianópolis, ele me abraçou, deu-me um beijo e disse-me: fique tranquilo, você vai ser aprovado! Saibam que havia tanta pureza nos seus olhos de menino que balancei e agradeci em silêncio, retendo as lágrimas na garganta! Hoje tenho plena consciência que nada poderia dar errado por estar rodeado de pessoas iguais a vocês: BRILHANTES E ETERNAS COMO OS DIAMANTES!...

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Diário de Bordo III...

O bom de viajar é não criarmos grandes expectativas e nem acharmos que esta ou aquela será a viagem mais significativa de nossa vida! Foi com esse espírito que desembarquei em Curitiba e com uma certeza: estava aportando em uma cidade fria, sabia que suas temperaturas beiravam o insuportável! Sou um sujeito "friorento" assumido e sabia de casos em que a temperatura chegara fácil, fácil aos 5 graus ou menos! O frio me maltratou, sofri, não vou mentir, mas fui surpreendido e convidado a descobrir as inúmeras belezas do lugar! Sei que o adjetivo "maravilhoso" não tem a capacidade de enunciar o impacto sofrido por minhas retinas já tão combalidas! Uma cidade deliciosa. Com uma variedade de espaços que preenche as expectativas mais exigentes! Cada lugar visitado merece uma menção especial, por sua delicadeza e por estar a todo momento provocando nossa sensibilidade! Foram dias indescritíveis! Curitiba é uma cidade que apresenta todas as estações do ano em um só dia! Eu sei que você deve estar dizendo, mas quando somos visitantes, tudo é muito lindo! Só vemos belezas, afinal somos guiados por aqueles que nos orientam e estes só mostram os melhores lugares, as belezas, enquanto o resto é empurrando para debaixo do tapete! Para isso a resposta é uma só: é preciso ir lá verificar em loco!
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Quando eu era estudante do ensino primário, hoje fundamental, fui apresentado a flora da região. Tinha uma raiva danada porque era obrigado a decorar os nomes da vegetação. E lá vinha aquele nome chato que, às vezes, cometia uma silabada, a tal da araucária! Que árvore linda, rapaz! Vejo como um professor irresponsável pode destruir o gosto do estudante pelo conhecimento. A minha professora de geografia não teve sensibilidade, não conseguiu ir além do óbvio, do mero decorar das capitais e outras coisas parecidas, com essa atitude, ajudou sobremaneira a me tornar um estudante medíocre na matéria!
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Fizemos uma viagem de trem que dura cerca de quatro horas nos embrenhando pela Serra do Mar, vimos o descortinar da mata atlântica e suas paisagens exuberantes! São 110 quilômetros de ferrovia! Há um momento na viagem que temos a nítida impressão que o trem está flutuando, somos nós e a mata extensa lá embaixo, uma maravilha! Sem contar a ponte São João, enorme "sobre" os penhascos! No passeio, o destino era Morretes onde comemos o prato típico dos paranaenses: o barreado! Rapaz, foi a única coisa que não gostei, é horrível!
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Um dos muitos impactos se deu quando penetramos no "Bar do Alemão", coisa que Manuela Cássia jamais esquecerá! A arquitetura, a comida e a bebida são ímpares! Tomamos o famoso submarino, que é um chope com uma cachaça (que não consigo pronunciar o nome!) dentro, sugerido pela nossa anfitriã, Mary Maria, o dito cujo nacauteou tanto a mim quanto a Pretinha, Menino Ró parece que escapou ou fingiu muito bem! O que sei é que ficamos completamente bêbedos, mas Manuela Cássia, para não ficar no porre sozinha, não resistiu e chamou "Raul"! No meu caso, nem vou contar o que aconteceu por conta do porre, ainda bem que Dona Nena não está por perto! Houve outras experiências marcantes em que ficamos extasiados com o que foi mostrado, mas deixo para contar no próximo diário onde concluo esse "périplo curitibano", vou ali beber um submarino e volto já...

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Catarse...

Posso parecer chato e tenho plena consciência que em alguns momentos, sou e muito! Mas há coisas que estimulam minha chatice, por exemplo, ser obrigado a ouvir determinadas "músicas" baianas e ainda fingir que está tudo bem! É bem provável que alguns digam que estou blasfemando contra a música popular baiana, ou, como é mais conhecida, a "axé music"! Quem sabe se essas "canções" não são verdadeiras obras-primas e eu é que não entendo nada de nada? É bem provável que os "gênios" da arte popular afirmem que "músicas" como "toma maderada" é algo criativo, original e único, um patrimônio baiano! Contudo não dá para aguentar, meus camaradas! Tudo não passa de repetir ad nauseum um refrão indefectível que se resume a: "toma maderada, toma, toma"! Sem nenhum respeito ao meu ouvido, tenho que suportar e ainda têm pessoas que põem o volume lá nas alturas, sem comiseração ou piedade: "toma maderada, toma, toma; toma maderada, toma, toma, toma maderada, toma, toma"! Meu ouvido fica reverberando, não é mole, mermão! São "versos raros", e o "cantor" ainda diz: você quer?, sete vezes!
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Na realidade, você bem que pode estar dizendo: "qual é problema, por que não olhar o lado humorístico/erótico da letra e se divertir? Que cara mais sisudo! Não vejo nada para tanto alarido!" É, talvez você tenha razão, como estamos vivendo o tempo da bárbarie musical, coisas como "toma maderada" representam o que as pessoas ouvem e gostam, às vezes elas nem sabem por que gostam! Como o ecletismo campeia por todos os lados, estamos num vale tudo, pode-se misturar as coisas mais absurdas que aceitamos sem contestação, tudo é possível, desde que estejamos com a maioria!
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Deixo a letra não como uma homenagem ao autor que nem sei quem é, mas como uma catarse, para que me lembre, sempre, que no modo de produção capitalista as coisas mais absurdas são colocadas para serem digeridas e nós como carneiros as digerimos como se fossem naturais e determinadas por uma força maior que nós, porém por estranha ironia, somos os seus criadores!
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"Ela quer de qualquer jeito nem quer saber aonde(sic) estamos, Eu tento fugir, disfarçar, mas ela fica provocando, Quando ela quer uma coisa não há nada quem(sic)tire isso dela, Só tem uma solução, vim(sic)aqui dar para ela, Aí mãe, aí mãe, ai mãe...Toma maderada Toma, toma (4 x) Você quer? (7x), Toma maderada,toma, toma (4 x )" Ufa, ainda bem que acabou, aqui, mas no disco eles repetem mais uma vez!...